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TRANSCENDO FRONTEIRAS E BARREIRAS
7, 10, 16, 22 de Setembro 2021
Oficians do Convento, Montemor-o-Novo | Zaratan, Lisboa
Casa das Artes / Sismógrafo, Porto | Splendor, Amsterdão


EN
PT
‘Transcendo fronteiras e barreiras’ é um concerto interdisciplinar que junta músicos, compositores, artistas, investigadores, cientistas e filósofos, todos em busca de histórias elementares. Da pedra à terra, do gelo à água, o concerto mergulha nas longas transformações de um planeta vivo, e nos encontros, mais recentes, que tem tido com as forças humanas. Partilhando voz com uma multitude de formas-vivas, este programa alinha-nos com a materialização das coisas, e elucida as formas pelas quais estas incorporam o nosso passado, o nosso presente e o nosso futuro.

Este concerto foi apresentado em Setembro 2021 por Sara Rodrigues, Roxanna Albayati e Rodrigo B. Camacho nos espaços
Oficinas do Convento , Zaratan , Casa das Artes / Sismógrafo e Splendor.

Uma versão reduzida do programa vai ser apresentada no dia 22 de Outubro 2021 pela Roxanna Albayati e pelo Marat Ingeldeev na Aberdeen Art Gallery como part do Festival Sound.

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excertos do concerto ao vivo dia 16 Setembro 2021 - filmado pelo Sismógrafo na Casa das Artes
imagens do converto ao vivo dia 22 Setembro 2021 - tiradas pelo Wilbert Bulsink no Splendor

PROGRAMA
(2 horas de duração)



Lava Antiga - das Canções do Volcão  (1994)
composição de Meredith Monk

Sara Rodrigues (voz solo)






Da Pedra ao Homen do Homen a...  (2014)
composição de Sara Rodrigues

Rodrigo B. Camacho, Roxanna Albayati e Sara Rodrigues (trio vocal)







A Grande Conversa (parada, ao passar de alguém)  (2020)
escrito e encenado por Marleen Boschen e Charles Pryor, composição sonica de Sara Rodrigues, produzido em colaboração com Lou Atessa-Marcellin

Sara Rodrigues (narração e voz), Roxanna Albayati e Rodrigo B. Camacho (efeitos de som ao vivo e vozes), com projeção de vídeo

[desenvolvido para performance ao vivo pelo New Maker Ensemble]





Petróleo, Carvão e Gas para Três Violoncelos  (2020)
composição de Jamie Perera, orquestrado por Dan Keen, programação de sonificação por Adrian Lewis

Roxanna Albayati (violoncelo) ao vivo e pre-gravado

Assentamo-nos sobre velhas erupções líquidas, uma certa vez correndo, indomáveis, pela superfície deste pedaço de terra; temperaturas mortais de rocha derretida, que então caíram abruptamente para que se solidificassem. Os feitios das nossas colinas, montanhas e vales seguram ainda os vestígios destas torrentes e dos seus tempos. O começo: um simples estado, tão cru, que eventualmente deu lugar a tanto mais. Biliões de anos de escarpas sólidas, expostas, antes que a terra viesse a ser tocada por humanos, e devemo-lo totalmente a tudo isto, que se passou. Os nossos corpos contam estórias, e neles estão contidos os mesmos minerais que deram origem à própria vida.


Vinte e duas definições da palavra ‘pedra’ ouvem-se simultaneamente. ‘Rocha’ emerge numa densa muralha de informação concentrada. Perfurando-a, ações repetitivas – sempre renovadas – apresentam-nos um processo de desintegração. Este processo, que acontece com tudo aquilo que é ‘concreto’, ‘mineral’ ou feito de ‘matéria’, pode ocorrer naturalmente ao longo de milhões de anos, ou ser acelerado por elementos antropogénicos como escavações ou explorações mineiras. ‘Frio’, ‘matar’ e ‘morto’ emergem assim que começam a aparecer buracos, mas mesmo essas palavras podem ser fracturadas em partículas dispersas e indefinidas. Esses fragmentos trazem-nos memórias daquilo que uma vez foi, e daquilo que ainda está para ser. A performance acaba com bolsos vazios e um quarto cheio de areia.



“Transcendo fronteiras e barreiras / sou sem peso / movido pelo vento e pelo mar...”. Assim que as partículas de areia, silte e argila entraram em contacto com microorganismos vivos, todo este ‘pó’ tornou-se também em algo vivo. Em conjunção com matéria orgânica, o solo foi-se lentamente tornando numa infraestrutura global, da qual dependem, para a sua sobrevivência, não só humanos mas inteiras redes de vida. Em si, o solo contem estórias passadas e presentes de inúmeras entidades, de números e de âmbitos quase impensáveis. Um narrador decisivo em tempos de decaimento ecológico, o solo guia-nos pelo desenvolvimento histórico das práticas de cultivo e pelos processos de extração levados a cabo por humanos, perante um futuro que é inseparável do da terra. O solo pode ser derradeiramente ouvido não como uma entidade singular, mas como um coro, que é naturalmente expansivo, mas que tem sido progressivamente silenciado.


O ato de interpretar sonicamente uma colação de dados sobre o clima pode ajudar-nos a sentir a informação que se queda nas bermas da perceção; aquela de mais difícil articulação. Tentar traduzir um híper-objeto, tão aparentemente impenetrável como as mudanças climáticas, é arranjar maneira de expressar e de confrontar o problema. Uma experiência sensorial pode modificar-se assim que nos seja revelado aquilo que a faz manifestar-se; neste caso: informação sobre a extração de petróleo, gás e carvão, desde a revolução industrial, no século XIX, seguindo um aumento estonteante ao longo dos 220 anos que nos trouxeram aos dias de hoje. Níveis máximos de carbono acumulam-se na atmosfera, enquanto as frequências e as intensidades aumentam, muito acima de qualquer nível registado nos últimos 800,000 anos neste planeta.

Ausência de voz. A neve não tem voz (1986)
composição de Beat Furrer

Rodrigo B. Camacho (piano solo)





Um glaciar aquecido pelo mar (2016/21)
Partitura para ouvir #80 | quatro variações (2016)

Audio de 2 canais (versão para concerto) e partitura gráfica de Jez Riley French

Rodrigo B. Camacho, Sara Rodrigues e Roxanna Albayati (vozes e movimento), com instalação de som stereo



[improvisação guiada pelo New Maker Ensemble]






Por Amor de Corais : Uma Ecologia de Talvez (2018-20)
escrito e encenado por Sonia Levy, editado com Sam Smith, música de Georgia Rodgers, banda sonora e som localizado de Jez Riley French e texto de Martin Savransky


Roxanna Albayati (violoncelo), Sara Rodrigues (narração) e Rodrigo B. Camacho (voz e eletrónica)

[desenvolvido para performance ao vivo pelo New Maker Ensemble]






Casa de Som (Nº4) (2018)
composição de Christina Vantzou com Clarice Jensen e Kat Bumbul, videografia de Colin Leveque e Elvis Fontaine-Garant (diretores de fotografia), Phantom Veo (câmera), Siet Phorae (coreografia e dança) e Zin Laylor (lenço de líquenes)


Roxanna Albayati (violoncelo), Rodrigo B. Camacho (electrónica) e Sara Rodrigues (voz), com projeção de vídeo

[desenvolvido para performance ao vivo pelo New Maker Ensemble]



Passagem - de Impermanência (1996/06)
composição de Meredith Monk

Roxanna Albayati, Sara Rodrigues e Rodrigo B. Camacho (SATBar) ao vivo e pre-gravado

São trazidas adiante as últimas palavras do poema “Os Manequins de Munique” de Sylvia Plath: “... Estes manequins inclinam-se esta noite / Em Munique, morgue entre Paris e Roma, / Nus e carecas naquelas peles, / Rebuçados cor-de-laranja em paus prateados / Intoleráveis, sem mentes. / A neve larga os seus pedaços de escuridão, / Não se vê ninguém. Nos hotéis, / Mãos abrirão portas e entregarão / Sapatos para um polimento de carbono / Dentro dos quais, amanhã, entrarão grandes dedos / Oh a domesticidade destas janelas, (...) Brilhando / Brilhando e digerindo / Ausência de voz. A neve não tem voz.


O mais poderoso resultado de escutarmos, com mais cuidado, os ambientes que nos rodeiam, é ver-se transformada a nossa percepção deles e alterar-se, portanto, o nosso lugar neles. Essencial neste processo é a necessidade de deixar que os locais se imponham sobre nós; é aceitar que os traduzimos, que os pacificamos e que parecemos estar determinados a criar fronteiras (faltosas) durante a nossa compreensão destes ambientes. Existe tanto mais. Em ‘Partituras para ouvir’, o gesto visual não força qualquer som; é a duração da escuta que altera a nossa perceção. Feito por músicos, público e local: vento soprando pela superfície do glaciar Snaefellsness / mantos de gelo ao longo de um lago gelado / secções de um glaciar à deriva pelo lago Fjallsarlon / ar morno e luz a derreter o gelo lentamente / gelo caindo sobre as vedações de arame de um prado / água glaciar dissolvendo minerais locais / água glaciar superaquece e evapora assim que entra por terra / praias de lava – a água é empurrada terra adentro / vida aquática na baía de Husavik – bacalhau grunhindo, camarões estalando e algas borbulhando (gravações recolhidas no curso de 4 anos na Islândia).


Em 2020, o Grande Recife de Coral experienciou um dos verões mais quentes de sempre, o que causou mais um evento de branqueamento em massa. Na cave do Museu de História Natural do Horniman, uma equipa especial trabalha diariamente para tentar reverter a eminente extinção dos corais (causada por humanos), ao reproduzir, pela primeira vez, corais por esporos em laboratório. Os corais demonstram, de forma simples, que seres individuais não são verdadeiramente separados dos seus ambientes mas que, com a sua própria existência, constituem ambientes para que outros seres vivos existem; de uma forma ou de outra, acabam por contribuir em todos os ecossistemas com efeitos tanto complexos quanto extensos. Os corais questionam, até pela sua forma física, a autonomia das categorias canonizadas de ‘animal’, ‘vegetal’ e ‘mineral’ que informam a história natural. Estes seres fantásticos pedem-nos que repensemos as ferramentas com as quais tentámos compreender a vida na terra, e convidam-nos a construir novos paradigmas de vida-multi-espécie.


Dizem que os líquenes se encontram apenas naqueles lugares em que o ar é ainda puro. Eles seguem, com o seu movimento, os habitats não poluídos que ainda sustentam vida. Guiado pela mente dos líquenes, o corpo humano encontra o seu caminho até à velha floresta, através de gestos líquidos, ainda guardando a memória dos oceanos profundos, onde tudo isto começou. Na sua formação híbrida, nenhum sentido é dominante, reafinando-se constantemente. Para sobreviver, cada parte depende uma da outra, mutuamente mantendo um equilíbrio fundamental na rede complexa de todas as coisas, da qual depende tanto também a nossa sobrevivência.




‘Impermanência’ explora o fluxo da vida, despoletado pela inesperada morte do parceiro de Monk que morreu de cancro; uma epidemia da vida moderna contemporânea. Uma simples melodia traz-nos de volta a uma cassete que o marido gravara, cantando ao improviso. Mantém-se materializada, a sua voz na sua ausência. Novas vozes emergem, como ondas formando-se, retornando ao mar. O passado é sempre presente, e guiará necessariamente o nosso futuro. Num estado meditativo, ‘Passagem’ é uma transição entre um momento de perda – energia em fluxo – e aquilo que ainda está para vir; o potencial para novos começos.





Este projeto foi possível graças a:
com o apoio adicional de:
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"The European Commission's support for the production of this publication does not constitute an endorsement of the contents, which reflect the views only of the authors, and the Commission cannot be held responsible for any use which may be made of the information contained therein."

Obrigada aos nossos anfitriões Ofinicas do Convento e Zaratan (incluindo Carolina Moncaleano), Casa das Artes / Sismógrafo, e Splendor (incluindo Wilbert Bulsink):
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